quarta-feira, 25 de junho de 2008

Ai que sono!

Pode parecer prolixo escrever sobre a mudança de horário no Acre agora que a coisa já entrou em vigor mesmo e depois do que escreveu o geógrafo, físico, pesquisador e consultor da meteorologia, David Friale sobre a hora natural, de quem pego um trecho emprestado:
“Quanto ao Acre, seu território está, praticamente todo, inserido no quinto fuso horário em relação a Londres, como pode ser observado no mapa.É bom lembrar que o nosso estado não se resume à capital e ao canto direito do mapa. É conseqüência da nossa posição geográfica e da grande extensão territorial do Brasil que temos essas diferenças. Isso nos dá o charme de grandeza territorial que realmente somos. Do contrário, todo o Brasil poderia adotar um único horário oficial! Por que somente o Acre deve ficar com o horário natural distorcido?”
As leis da natureza, ao contrário das imposições do Congresso Nacional, são imutáveis. E como seres humanos somos naturalmente imutáveis do ponto de vista biológico, no máximo adaptáveis e em alguns casos.
A mudança a que estamos sendo submetidos tendo que abrir mão de uma hora do dia de ontem deixou a maioria, no mínimo com sono.
Deu dó acordar a criançada para levar à escola. Como se não bastasse o frio, eram, naturalmente falando, 6 horas da manhã, quando o sinal de entrada tocou.
Ouvi uma mãe irritada dizer: “É fácil viver em Brasília e submeter a gente que vive aqui a isso”.
Fiquei a refletir no desabafo, enquanto tentava driblar o estado de sonolência.
Ora vejamos. Pelo que me lembro, não foi à toa que pela mesma força da legislação, o Acre, assim como os demais estados do Norte e do Nordeste foram isentos de praticar o horário de verão, justamente em função da posição do sol nestas regiões.
Como agora foi possível ignorar esse fato natural? Em favor de quem?
As pessoas que tem se posicionado favoráveis não apresentam argumentos suficientemente justos para isso, dizem somente que a lei de 1913 foi uma imposição errada.
Ao contrário, quem tem se posicionado contra baseia-se na ordem natural das coisas.
E eu pergunto: O que vai melhorar na vida do acreano que já está bem habituado ao horário vigente há 95 anos, a se gabar de ter o mesmo horário de New York, a ir ao banco às 9 da manhã, a falar com o pessoal das outras regiões por telefone ou chat e dizer que aqui ainda é de manhã quando lá já e de tarde e que ainda é de tarde quando lá já é de noite, e daí?
Ontem a tarde algumas pessoas foram ao Mercado Velho para uma festa em comemoração a nova hora, a hora dita mais certa.
Na minha opinião estes recursos teriam sido melhor empregados se utilizados para uma consulta popular, um referendo como os nossos vizinhos bolivianos fizeram para dizer sim ou não a autonomia departamental e olha que nas bandas de lá impera o centralismo autoritário de Evo Moralez.
Essa conversa de que a hora imposta pela lei anteriormente foi um erro e que esta hora agora é a hora mais certa tá me dando um sono danado. Zzzz....!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

O rio pede socorro


Não é de hoje que o Rio Acre clama por socorro. O período de seca se aproxima e a situação tende a ser mais grave do que ocorreu em 2005. Dados de satélites, previsões, estudos, alertas de todos os meios que mostram isso começam a se intensificar. Mas será que apenas alertar será o suficiente para evitar a forte seca que vem pela frente e que pode até ocasionar um colapso no abastecimento de água da Capital ?
Alerta somente impedirá que os níveis da água do rio continuem baixando e baixando?
Não é de hoje também que estes alertas estão sendo feitos e que toda a responsabilidade é jogada em cima da população, que é claro tem mesmo grande parcela de culpa no processo de degradação do Rio Acre.
Tive a oportunidade de ver a situação de perto e é lastimável.
São centenas de entulhos e lixo jogados rio abaixo pela população ribeirinha, principalmente no perímetro urbano de Rio Branco.
Mas e quanto ao processo de assoreamento do leito intensificado pela extração de areia feita pelas dezenas de dragas de empresas da iniciativa privada espalhadas por quase toda a extensão do rio?
E quanto ao esgoto da cidade que ainda é lançado in natura ?
Ali mesmo no Centro de Rio Branco, nas proximidades do Bairro Cadeia Velha, o canal da maternidade, que corre a céu aberto cortando toda a cidade por entre o Parque da Maternidade deságua suas águas fétidas e escuras ao ar livre, à vista de todos.
Será que isso também não está prejudicando a vida no rio?
Sou leiga no assunto, mas creio que sim e acho que medidas urgentes deviam ser tomadas para resolver esta situação vergonhosa que cheira muito mal bem debaixo do nariz de todos os que podem resolver o problema.
Alertar somente, gastar milhões com campanhas e campanhas em panfletos, vídeos e spots, servem mais para que produtoras e gráficas faturem do que mesmo para conscientizar a população. Não tem ao longo do tempo surtido efeito.
Creio que a fase da informação a respeito está se saturando. É chegada a hora de efetivar medidas que resolvam de fato os problemas e que os agressores do Rio sejam de fato punidos como rege a Lei por somente um peso e somente uma medida.
Ou isso, ou chega de blá, blá, blá.

sábado, 14 de junho de 2008

Autonomia política e administrativa do Acre completa 46 anos


Há exatos 46 anos o Acre saiu da condição de território federal para se tornar estado independente. Em 15 de junho de 1962 era proclamada a autonomia política acreana com a aprovação e sanção da Lei 4.070 de autoria de José Guiomard dos Santos, após tramitar cinco anos na Câmara dos Deputados. Na época, vigia no Brasil o sistema parlamentarista quando Tancredo Neves era o 1º ministro e João Goulart, o presidente da República.

O historiador Marcos Vinícius Neves relatou que para se chegar a esta conquista foram 58 anos de luta. “Na verdade o movimento autonomista teve três fases, começando já em 1904, desde a criação do território quando começaram as lutas armadas”, lembrou.

Segundo ele, até 1920 ocorreram diversos episódios que já significavam a luta dos acreanos pela autonomia. “Neste período aconteceu o assassinato de Plácido de Castro, em 1908. Em 1910, houve a revolta armada em Cruzeiro do Sul, quando o prefeito departamental foi deposto, preso e colocado para descer de bubuia (sic) rio abaixo - daí a origem de que os derrotados políticos descem de balsa. Em 1912, houve a revolta em Sena Madureira e em 1918 foi em Rio Branco por conta dos desmandos do prefeito departamental”, relatou.

Nesta época, de acordo com Marcos Vinícius, começou o período de crise da borracha. “Aí passou a ser um bom negócio depender dos recursos do governo federal”, destacou.

Corocas versus Urucubacas - Em 1930, inicia-se o que o historiador classifica como segunda fase do movimento autonomista. “O período culminou com a revolução de Getúlio Vargas quando começaram a ser formar as primeiras agremiações políticas. No Acre formaram-se de um lado a Legião Autonomista, os Corocas, e de outro o Partido Construtor, os Urucubacas, que eram contra a autonomia. Eles defendiam que o Acre precisava primeiro se construir”, disse Neves.

O resultado desse movimento que tinha de um lado os “Corocas”, como eram chamados os militantes do Partido Construtor pelos adversários da Legião que por sua vez eram chamados de “Urucubacas”, foi considerado frustrado. “Com a Constituição de 1934 não se concebeu a autonomia. O Acre passou a ter representação federal podendo eleger dois deputados federais, através do voto direto da população”, continuou.

Já em 1945 com a Reforma Política do Brasil, Corocas formaram o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) liderado por Oscar Passos e Urucubacas o PSD (Partido Social Democrata), liderado por Guiomard Santos, nomeado governador no período de 1946 a 1950. “Veja que há uma ironia nisso porque o partido de Guiomar Santos era contra a autonomia”, enfatizou Neves.

Ao concluir seu mandato no Executivo, Guiomard Santos é eleito deputado federal com mandato entre 1950 a 1954, quando se reelege para o segundo mandato. “Aí ele percebeu a força da autonomia do Acre e apresentou em 1957 o Projeto de Lei, na Câmara dos deputados. Com isso os papeis se invertem, restando ao PTB ficar contra a autonomia.”, concluiu.
Com o acirramento político verificado nesta época formaram-se os comitês pró-autonomia em várias cidades acreanas. “Cada um tinha suas características próprias. Em Cruzeiro do Sul, por exemplo, foram as mulheres que se mobilizaram”, destacou o historiador.

José Augusto é o primeiro governador eleito

Apesar de ter sido o autor da lei que tornou o Acre estado, Guiomard Santos foi derrotado nas urnas pelo jovem professor de Cruzeiro do Sul, José Augusto, do PTB. “Ele era desconhecido, mas era acreano. Daí a marca do povo acreano de somente eleger acreano para governar. Na primeira vez que puderam escolher já mostraram isso”, enfatizou.

Entretanto o primeiro governador eleito no Acre não pôde concluir seu mandato tendo sido derrubado pelo Golpe Militar de 1964. “Foram 20 anos sem uma nova eleição, mas no período foram nomeados para o governo os acreanos Jorge Kalume – 66 a 70, Vanderley Dantas – 71 a 74, Geraldo Mesquita – 75 a 78 e Joaquim Macedo – 79 a 82”, acrescentou Marcos Vinícius.

Em 1982, com o fim da ditadura e volta da redemocratização, os acreanos vão às urnas e elegem Nabor Júnior – 83 a 86. Depois, Flaviano Melo – 87 a 90, Edmundo Pinto – 90 a 91, quando é assassinado e substituído por Romildo Magalhães – 91 a 94, Orleir Cameli – 94 a 98 e Jorge Viana, único reeleito – 99 a 2006.

“Na verdade, a democracia acreana só tem 28 anos, mas no período em que a população não pôde votar se verifica uma forte participação popular através de outras manifestações, por isso que hoje temos uma cultura tão rica e tão vibrante”, comentou o historiador.

Ele ponderou ainda que a elevação do Acre a condição de estado não significou só uma vitória política, mas também de cidadania e de economia já que com a criação da constituição estadual, os acreanos passaram e gerir seus próprios recursos e arrecadar impostos não dependendo mais somente de dotação orçamentária da União.